sexta-feira, 17 de agosto de 2012

HORIZONTES OBSCUROS.

                                                HORIZONTES OBSCUROS.
 Para onde caminha a humanidade?
Já faz algum tempo que nossa juventude entrou para o noticiário policial, no mundo e, particularmente, no Brasil. Jornais, revistas, rádio e televisão não cansam de mostrar a situação degradante que chegou nossos jovens. Situação calamitosa, a julgar pelo noticiário, nos chamados países em desenvolvimento e, para surpresa geral, nos países desenvolvidos. Jovens imigrantes botam fogo em Paris e em outras cidades francesas no ano de 2010. Em 2011, foi a vez de Londres e outras cidades britânicas. Gangues de meninas com idades variando entre nove e doze anos apavoraram a Vila Mariana, bairro “classe média alta” da capital paulista. Jovens atuando como “soldados” do tráfico de drogas na verdadeira “guerra civil” que se trava nos morros e no asfalto do Rio de Janeiro. Várias gangues juvenis se enfrentam pelo país afora, com destaque para Brasília e São Paulo. “Pitt boys” agridem pessoas vistas como diferentes pelas principais avenidas de São Paulo. Jovens se consomem em drogas por todo o país, particularmente, nas chamadas “Cracolândias”. Jovens de “classe média” queimam pessoas vivas em Brasília e São Paulo. Jovens agredindo seus professores. Enfim, jovens morrendo, jovens matando! Parece que nossa juventude está perdida e, mais que isso, parece que está condenada. Como se chegou a essa situação? Analistas divergem sobre as razões. Para uns, foi a degradação da família a responsável por tal situação. Para outros, é o excesso de liberdade que a garotada desfruta, pois hoje eles não conhecem limites. Outros ainda, acham que foi a falência do sistema educacional leniente de hoje que, além de irresponsável já que aprendendo ou não o aluno é aprovado, é liberal demais, pois os conteúdos não são devidamente valorizados. Parece-me que aqui só são apontados os sintomas periféricos da doença. A questão central não é percebida em sua inteireza por esses diagnósticos. A doença, que parece ser a “mãe” de todas as outras, deve ser procurada lá nos meados da década de sessenta do século passado, quando o governo militar modificou praticamente toda a estrutura do ensino em nosso país. Trocou-se uma educação de caráter humanista que, assim como a filosofia e a ciência, favorecia o desenvolvimento do conhecimento, por uma educação de caráter tecnicista, importada dos países desenvolvidos, onde os alunos só reproduzem os conteúdos de sua especialidade. Ou seja, começava-se ali a implantação de uma sociedade da técnica onde impera o especialista. Os resultados dessa política nefasta, estão sendo conhecidos agora. Não há mais interesse pelo futuro. O que interessa é o aqui e o agora, a adrenalina, a emoção fugaz do momento. Por isso os jovens não participam mais da luta política e caem numa luta estúpida e fratricida de todos contra todos, destruindo-se uns aos outros, o que termina por gerar seres humanos apáticos, desconfiados de tudo e sem esperanças no amanhã. Isso ocorre porque o homem, generalista por natureza, tem que se especializar. Se especializando não cria nada de novo ou de seu, sua curiosidade é sufocada e ele só reproduz aquilo para o qual foi treinado. Então tudo é igual todos os dias. Já que o amanhã não será diferente de hoje, que interessa o amanhã? Como faz tudo sempre igual, não tolera a diferença e passa a agredir tudo que lhe parece diferente. Ou seja, se desumaniza, não aceitando mais a contradição e quem pensa diferente é seu inimigo. Esses são os primeiros adultos formados no tecnicismo que refletem agora seus comportamentos neuróticos em seus filhos. O tecnicismo privilegia a competição. Como se sabe, na competição o importante é vencer e para vencer, muitas vezes se usa a fraude, sabemos que a fraude é um desvio ético importante e que, em nome da vitoria, esse desvio ético é praticado com alguma freqüência em todos os campos da sociedade. Sabemos também que para alguém ganhar, alguém precisa perder e que perder em nossa sociedade não é muito bem visto. E é para não ser visto como perdedor que muitos jovens –não só os jovens –apelam para a fraude. Só que ao fazê-lo, leva uma vantagem anti-ética sobre seu adversário que perdendo injustamente é acometido pela revolta que causa a animosidade ou a já citada apatia. Mas todo jovem é assim? Claro que não, existem as exceções! Aqueles que mesmo formados para a competição resistem e reagem contra as barbaridades dessa sociedade neurótica. Embora filhos do tecnicismo, alguma humanidade foi neles preservada. Só que pagam alto preço por isso, pois quando protestam contra as injustiças e arbitrariedades dessa “sociedade”, são covardemente criminalizados por formadores de opinião. São esses os resultados dessa estrutura de educação tecnicista que privilegia a competição em detrimento da solidariedade, que obriga o homem a se especializar levando-o a pensar somente em reproduzir, e que nada criando de seu frustra a sua humanidade, diminui suas perspectivas e estreita seus horizontes. Ou seja, pensando em vencer a qualquer preço, perde-se a humanidade em troca de futilidades e promessas vazias. E, por aqui não se encontra saída. Se assim é, e sendo a juventude portadora do futuro, e estando desinteressada do futuro, ou condenada a não ter futuro, estaria a humanidade com seu futuro ameaçado? Se agir certo não. Agir certo aqui é resgatar aquela educação humanista que privilegia a solidariedade através do ensino da filosofia e de outras ciências humanas. Aquela educação que privilegiando a solidariedade pretendia formar o homem para a vida onde compartilhar seria a palavra de ordem. Onde a fraude ou o desvio ético deveria envergonhar quem o praticasse. Onde os jovens comprometidos com o bem comum não fossem exceção e motivo de crítica e espanto, mas a regra. Aquela educação que privilegiando a justiça formaria uma sociedade de fato e não esse campo de batalha que assistimos em nosso dia a dia. Só assim nossa juventude poderá recuperar os ideais generosos que a movia. Irá se preocupar novamente com o futuro ampliando sua perspectiva e seus horizontes sem medo de perder. Alguns passos neste sentido já foram dados. A filosofia voltou a fazer parte do programa escolar, assim como a psicologia e a sociologia. Falta a literatura ser encarada com mais seriedade e começar a ser ensinada o mais cedo possível. Mas uma certa confusão ainda reina aqui, pois o longo período em que essas matérias ficaram proibidas no ensino básico gerou uma falta de professores na atualidade, ainda se privilegia a competição e o tecnicismo ainda não saiu de cena. Pelo contrário, parece até que está mais forte, pois novos testes de avaliação, que obriga os alunos a decorar conteúdos em vez de aprender a compreender como o ENEM e outros, foram acrescidos aos já existentes. Nada contra as avaliações, só que a “loteria” dos testes de múltipla escolha não avalia nada. Para uma real avaliação, as provas dissertativas é que deveriam ser aplicadas. Parece que estão querendo humanizar o tecnicismo. Já é um começo, mas insuficiente ainda. Um retorno mais consistente àquela educação humanista formadora de jovens pensantes e solidários, com os olhos mirando o futuro com a confiança que ele será melhor, se faz necessário. Reformar o tecnicismo tentando humanizá-lo é apenas um bom início de caminhada, que deve prosseguir até sua total transformação. Aí sim, nossa juventude deixará de freqüentar o noticiário policial para voltar a ocupar o noticiário das grandes questões da humanidade: da política. Portanto, por sua natureza crítica e coletiva, a filosofia juntamente com as ciências humanas e a literatura são fundamentais. Vamos estudá-las então.

terça-feira, 17 de julho de 2012

FHC PLAGIOU INTELECTUAIS BANIDOS


FHC plagiou intelectuais banidos"

Por Gianni Carta, na revista CartaCapital:

Foram necessários 43 anos para que Subdesenvolvimento e Revolução, do mineiro Ruy Mauro Marini, desse o ar da graça no Brasil. Publicada pela primeira vez no México em 1969, a obra clássica do marxismo brasileiro ganhou edições em diversos países, inclusive naqueles da América Latina a viver sob o jugo de ditaduras. O que nos leva a perguntar: por que tanto tempo para se reconhecer um grande intelectual brasileiro? Marini (1932-1998), presidente da Política Operária (Polop) e autor de Dialética e Dependência, passou 20 anos no exílio a partir do golpe de 1964. Professor no México e no Chile, onde dirigiu o Movimento de Izquierda Revolucionária (MIR), ele não era, é óbvio, bem-vindo pela ditadura brasileira.

Sua obra continuou, porém, a ser censurada durante a chamada “transição democrática”. Nas palavras de Nildo Ouriques, autor da apresentação de Subdesenvolvimento e Revolução(Editora Insular, 2012, 270 págs.), professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina e ex-presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC, a hegemonia liberal “monitorada” por Washington queria uma transição isenta de teorias radicais como aquelas de subdesenvolvimento e dependência de Marini.

Segundo Ouriques, nessa empreitada para marginalizar radicais, Fernando Henrique Cardoso e José Serra serviram à hegemonia liberal e, entre outros feitos, adulteraram um famoso texto de Marini. Na esteira, FHC pegou carona para “formular” a teoria da dependência que o tornou famoso. Subdesenvolvimento e Revolução, iniciativa do Iela-UFSC, inaugura a coleção de livros críticos que serão publicados pela primeira vez no Brasil pela Pátria Grande: Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano.

Como explicar a popularidade intelectual de Ruy Mauro Marini mundo afora?
A importância do Marini é teórica e política. Ele tinha rigor teórico, metodológico, e expressava a visão da ortodoxia marxista. Na experiência brasileira, e aqui me refiro ao grande movimento de massas interrompido com a derrubada de João Goulart em 1964, ele polemizou a tese socialista chilena no sentido de afirmar os limites da transição pacífica ao socialismo. Soube usar a pista deixada por André Gunder Frank do desenvolvimento do subdesenvolvimento e fez a melhor crítica aos postulados estruturalistas dos cepalinos. 

Fernando Henrique Cardoso, José Serra e em parte Maria da Conceição Tavares divulgavam o debate sobre a dependência como se não fosse possível haver desenvolvimento no Brasil. Para Marini, haveria desenvolvimento, mas seria o desenvolvimento do subdesenvolvimento. A tese de Frank tinha consistência, mas não estava sustentada plenamente na concepção marxista. Marini, por meio da dialética da dependência, deu acabamento para a tese que é insuperável até hoje. Daí a repercussão do seu trabalho na Itália, França, Alemanha, sobretudo nos demais países latino-americanos, inclusive aqueles submetidos a ditaduras, com exceção do Brasil.

O senhor escreveu na introdução do livro que a teoria da dependência de Fernando Henrique Cardoso foi influenciada pela hegemonia liberal burguesa.
Indiscutivelmente. Os fatos agora demonstram claramente que FHC estava a favor de um projeto de Washington de conter movimentos intelectuais radicais no Brasil. Uma das metas de Fernando Henrique e José Serra era minar o terreno de radicais como Marini. Em 1978, Fernando Henrique e Serra, que havia ganhado uma bolsa nos Estados Unidos, passaram, na volta ao Brasil, pelo México. Marini dirigia a Revista Mexicana de Sociologia (RMS), da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). 

Eles deixaram um texto de crítica ao Marini, As Desventuras da Dialética da Dependência, assinado por ambos. Marini disse que publicaria o texto desde que na mesma edição da RMS de 1978 constasse uma resposta crítica de sua autoria. FHC e Serra concordaram. E assim foi feito. Em 1979, FHC e Serra publicaram As Desventuras nos Cadernos do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) número 23. A dupla desrespeitou a prática editorial que Marini lhes reservou no México. Em suma, a resposta de Marini não foi publicada aqui.

FHC e Serra teriam adulterado o texto por eles assinado ao se referir a um conceito econômico de Marini.
Alteraram um conceito fundamental na teoria de Marini: o da economia exportadora. Marini previa a redução do mercado interno e a apologia da economia exportadora no Brasil. Segundo ele, com a superexploração da força de trabalho não há salário e mercado interno para garantir a reprodução ampliada do capital de maneira permanente. A veloz tendência da expansão das empresas brasileiras força-as a sair do País, e no exterior elas encontram outras burguesias ultracompetitivas. Fernando Henrique e Serra mudaram o conceito de “economia exportadora” e substituíram por “economia agroexportadora” no texto publicado pelo Cebrap. 

Marini falava que o Brasil exportaria produtos industriais, inclusive aviões, como de fato exportamos. Mas isso não muda nada. A tendência da economia exportadora implica a drástica limitação do mercado interno. FHC e Serra queriam levantar a hipótese de que Marini não previa a possibilidade de o Brasil se industrializar. Em suma, Marini seria, segundo FHC e Serra, o autor da tese de que no Brasil se estava criando uma economia agroexportadora. Essa adulteração do texto numa questão tão central não ocorre por acaso.

Mas FHC, apesar disso, é tido como o pai da teoria da dependência.
É rigorosamente falso e irônico. Ele e Serra tinham a meta de bloquear essa tendência mais radical, mais ortodoxa, mais rigorosa do ponto de vista analítico de, entre outros, Marini, e pegaram carona. Daí a astúcia, no interior do debate mais importante na área de Ciências Sociais na América Latina: o da teoria da dependência. E nesse contexto se apresentaram como os pais da famosa teoria, especialmente FHC, quando em parceria com Enzo Falleto publica Dependência e Desenvolvimento na América Latina. 

À época, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) já não tinha condições para defender seus projetos teórico e político, e eles se apresentam como interlocutores nesse debate. Visavam por um lado recuperar as posições cepalinas e de outro evitar o radicalismo político. E foram exitosos, turbinados pelas elites nacional e internacional favoráveis a um projeto de transição lenta, gradual e segura. Um projeto dessa natureza precisa ter uma direita clássica, fascista etc., e também uma versão liberal na qual se encaixa Fernando Henrique Cardoso.

E o que ele representava?
De fato, ele encabeçou a oposição liberal à ditadura. Tornou-se suplente de senador de Franco Montoro e logo em seguida com a eleição deste para o governo do estado se transformou no grande modelo de intelectual político “dentro da ordem”, para usar uma feliz expressão de Florestan Fernandes. Não é um movimento fútil o de FHC. Ele percebe a política do Partido Democrático em Washington, no sentido de democratizar o Brasil, percebe o movimento da elite empresarial em São Paulo por meio do manifesto de 1977 contra o gigantismo estatal e percebe o movimento de massa pelo crescimento do MDB. E assim teve uma brilhante carreira política. Idem o Serra, para falar de políticos mais notórios. E conseguiram produzir numerosos intelectuais no mundo universitário, exceto a intelectualidade que estava mais presa a um novo sindicalismo e ao petismo.

O FHC parece não ter muita credibilidade no mundo acadêmico.
Ele não tem uma obra. Fernando Henrique é no máximo um polemista no interior de um debate acadêmico (dependência) no qual ele não era a figura principal. Mas cumpriu o papel decisivo no sentido de bloquear, coisa que fez com certa eficácia, as correntes mais vitais desse debate. Teve êxito especialmente com a obra de Marini, mas também com livros muito importantes de Theotonio dos Santos, Imperialismo e Dependência, ou Socialismo ou Fascismo, o Novo Dilema Latino-Americano, este publicado até em chinês, mas jamais no Brasil.

Marini concordaria com o senhor que o discurso sobre a nova classe média é uma forma de legitimar o subdesenvolvimento no Brasil?
Completamente. Esse debate esconde algo fundamental, a gigantesca concentração de renda. Enquanto se fala na ascensão da classe média, a pobreza é muito maior: 76% da população economicamente ativa vive com até três salários mínimos, 1,5 mil reais. Ou seja, nem sequer alcançam o salário mínimo do Dieese. Com meu salário de professor em greve (por aumento salarial), pertenço aos 24% mais ricos da sociedade, ao lado do Eike Batista.

Mas, de fato, Lula elevou o nível de vida de milhões de brasileiros.
Lula fez política social. O problema de Fernando Henrique e José Serra é que eles odeiam o povo. FHC não tinha uma política social para o País. Mas política social não traz emprego e renda. Num país subdesenvolvido, inclusive numa estratégia revolucionária, é preciso ter programas emergenciais. A estratégia da erradicação da pobreza de Dilma Rousseff não pode ser realizada exclusivamente com política social. O petismo está mostrando seus limites porque terá de confrontar o poder, o prestígio social e a elite. Se não enfrentar tudo isso, será devorado.





RETIRADO DA ENTREVISTA DO PROF. NILDO OURIQUES A GIANNE CARTA NA REVISTA CARTA CAPITAL

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Um mundo mais justo, ou um grande bordel?

Um mundo mais justo, ou um grande bordel?



Quem era Václav Havel ?
Confesso que nunca me interessei muito por sua biografia . Mas sabia que ele tinha sido o presidente da República Checa depois da queda do chamado “socialismo real” na Europa oriental.
Mas, no dia dezenove de janeiro último, deparo-me com um artigo de Demétrio Magnoli, na página dois do Estadão, exaltando o “heroísmo” de Havel. Aí comecei a desconfiar. Não por Havel, mas por seu fiador, já que o senhor Magnoli é dessas figuras estranhas que, saídas do nada, começam a freqüentar as telas de nossa TV, os microfones do nosso rádio, as páginas dos jornais e revistas que compramos.
A primeira impressão que tive desse cidadão foi positiva, pois, não se pode negar, ele domina como poucos a arte da retórica. Sua retórica envolvente ensinando e defendendo uma “democracia” era convincente. Só que o “professor” não praticava o que ensinava e defendia, e um dia a máscara caiu, pois ao assistir a um documentário da TV Câmara que tratava das cotas para negros e pobres na UNB, fiquei sabendo que a estranha figura e sua turma eram contra a medida.
Ter opinião em uma democracia é a coisa mais normal do mundo, até aí nada de mais. No entanto, uma pessoa pública como Magnoli, recusar-se a debater publicamente sua opinião não é normal. Pois foi o que ele fez no lançamento do seu livro que condenava as cotas para negros nas universidades. Convidou sua turma para um “debate” em que não haveria contraditório, já que a parte que era atacada em seu livro não tinha direito à defesa, pois não fora convidada. Então, como chamar a isso de debate?
Aqui, apenas começava minha desconfiança, que foi se confirmando com o passar do tempo e um pouco mais de atenção ao que o sujeito dizia. Defendendo qualquer ação dos Estados Unidos no Oriente Médio ou em outro lugar qualquer, invertendo habilmente o sentido das palavras e dos conceitos, ele envolve com sua retórica o espectador, o ouvinte ou o leitor desatento.
Senão vejamos o “ilusionismo” do “professor”. Já no primeiro parágrafo do artigo do dia dezenove de janeiro ele tasca cinicamente:... “o contrário do comunismo não é o capitalismo, mas a verdade”. A um interlocutor desatento, a frase surtirá o efeito desejado, já que passará despercebida a intenção do articulista em inverter a lógica dos sistemas, pois o capitalismo sim é sinônimo de mentira – o verdadeiro oposto de verdade, e não o comunismo, que como sistema econômico nunca foi sequer experimentado permanecendo ainda como simples utopia, pois o que houve no leste europeu foi a tentativa de se implantar o socialismo, que enfrentou problemas, e a estranha figura sabe muito bem disso.
Como todo o artigo é essa tentativa de inversão total dos valores, resolvi procurar saber se pelo menos os elogios feitos pelo articulista eram merecidos. Comparei então o que de melhor se falava da Checoslováquia à época do chamado socialismo real com o que se fala de melhor da República Checa hoje. E bingo! Aqui a inversão também é gritante, pois na época do chamado socialismo real, o que de melhor se falava da Checoslováquia era de suas máquinas operatrizes, consideradas as melhores do mundo então! O que se fala de melhor da República Checa hoje é de suas jovens mulheres, consideradas as mais belas da Europa, abastecendo os prostíbulos e a “indústria” de filmes pornográficos pelo mundo afora!
E é nesse contexto conturbado, onde tudo que o articulista escreve deve ser entendido ao contrário, que ele induz a presidente Dilma Roussef a ficar ao lado da “blogueira” cubana Yoani Sanches na luta que esta trava contra o governo cubano. Tudo pareceria normal, não fosse o fiador da “moça” e o governo contra o qual ela luta. Cuba, antes da Revolução era tachada de o “ bordel da América”, onde reinava o analfabetismo, o abandono do povo pobre pelo governo, a corrupção, a miséria e onde os ricaços americanos divertiam-se a valer satisfazendo suas taras, assim como hoje a República Checa é tachada de o “bordel da Europa”. Depois da Revolução, isso acabou, e Cuba passou a ser referência mundial em saúde e educação, o que talvez tenha permitido a essa senhora desafiar um governo que deu atendimento às necessidades básicas da população, coisa que não havia antes da Revolução. O que havia era o “grande bordel” da América e sem a Revolução talvez essa “blogueira” fosse uma analfabeta e freqüentadora do bordel. É isso que ela quer para suas compatriotas?
Parece que o mundo quer retornar àquele “período de trevas” onde o ser humano não valia nada. Às vezes parece que a humanidade perdeu totalmente a razão. Mas só parece, porque há quem ainda se rebele contra tal situação. O jornalista Fernando Morais, autor de um livro sobre Cuba intitulado A Ilha, sempre que é entrevistado repete a frase exposta em um outdoor de Cuba: “Esta noite 200 milhões de crianças vão dormir na rua em todo mundo. Nenhuma delas é cubana”. Que fato extraordinário! Ele faz isso tentando sensibilizar aqueles que se desumanizaram e não estão nem aí para seus semelhantes. Mas parece que suas tentativas têm sido em vão! Apesar da constante insistência, suas palavras parecem cair no vazio, já que defensores do lixo capitalista nascem e crescem mais que “erva daninha”.
Por quê?
Porque eles querem transformar o mundo naquele “grande bordel” que era Cuba antes e que é a República Checa hoje. Só que com um pequeno detalhe cidadão e cidadã desatentos: eles querem que nossas filhas animem esse bordel. E nós, a não ser que sejamos parvos ou idiotas como aquele pai que assistiu ao estupro da filha em rede nacional de TV e achou bom, devemos reagir contra essa intenção. Para nós, pais e mães, a questão está colocada: queremos um mundo que atenda as necessidades básicas de nossos filhos e filhas como ocorria nos países socialistas, ou queremos um “grande bordel” onde nossas filhas serão a mercadoria? Se houve problemas na primeira experiência socialista, é necessário corrigi-los e não destruir uma experiência que se revelou superior ao capitalismo, já que sua vigência forçou os capitalistas a cederem direitos nunca desfrutados antes do advento socialista.
Muitos pais e mães, premidos pelo hábito, ainda desconfiam da proposta socialista e são presas fáceis para o discurso da dupla de “supostos” funcionários do Departamento de Estado norte-americano. Magnoli e Sanches querem a volta do bordel cubano, como Havel instalou na República Checa. Mas a juventude, que sente na pele os efeitos nocivos do capitalismo e não querem ver a dignidade humana pisoteada, já decidiu dizer não a essa quadrilha ocupando as praças e as ruas do mundo e desconfia dos falsos heróis e dos discursos que invertem a realidade dos fatos.
Como se vê, os esforços de Fernando Morais não têm sido em vão como parecia,pois se é verdade que a retórica envolvente de Magnoli e a propaganda insidiosa de Sanches ainda conseguem enganar aos desatentos, é preciso reconhecer também que o discurso humano de Fernando Morais encontra eco na juventude e em pessoas maduras que não se desumanizaram e resistem, ainda que de forma meio desorganizada, a mais essa barbárie capitalista. Se essa “senhora” quer se prostituir, o problema é dela! Agora se quer prostituir nossas filhas, o problema é nosso.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A MIDIA A SERVIÇO DE QUEM?

A MIDIA A SERVIÇO DE QUEM?

Para que serve a mídia?
Para informar. Mas já faz algum tempo que cultivo cá com meus botões uma suspeita: a de que alguns articulistas, economistas, jornalistas, não são funcionários das empresas a qual pensamos que eles trabalham, nem donos das consultorias que levam seus nomes, mas funcionários do Departamento de Estado norte americano, tal é a paixão com que defendem qualquer idéia ou ação, mesmo as mais cruéis, do país Iankee.
Mas parece que a coisa é pior do que eu pensava. Isso porque a impressão que tenho agora é que as empresas de mídia: jornal, rádio, revista e televisão, é que são propriedades do órgão de espionagem norte americano. O que, se confirmado, me parece muito grave. Porque a pretexto de informar, o que essas empresas fazem mesmo é propaganda nociva para a maioria dos brasileiros que, mal informados que somos, abraçamos de boa fé. O que caracteriza crime de lesa pátria, ou no popular, traição mesmo.
Quais seriam as razões de tais suspeitas?
As razões são inúmeras. Mas aquela visível a olho nu é a postura adotada por esses órgãos de informação frente aos governos nas duas últimas décadas. Frente aos dois governos da coalizão PSDB, DEM, PMDB e outros sócios menores, subservientes ao “Império americano”, a postura era de simpatia, diria até de total adesão. Os chamados “mal feitos” até que eram denunciados em alguns órgãos de imprensa, mas como a coalizão defendia as idéias do “Império”, esses “mal feitos” eram vistos como coisas menores, necessárias até para o sucesso do projeto, que, frise-se, não visava ao bem estar dos brasileiros, mas aos interesses do sistema financeiro internacional, particularmente, ao chamado “Consenso de Washington”. Ou seja, exemplo clássico de que os fins justificam os meios. Com o detalhe que os fins aqui não eram servir a nosso país, mas ao “Império”.
Entretanto, a postura frente aos dois governos, de coalizão parecida liderada pelo PT, anteriores e ao governo atual, menos dóceis ao “Império”, as coisas mudaram como que da água pro vinho. Os “mal feitos” agora, além de denunciados, vêm acompanhados já da condenação, pois as cabeças dos “acusados”são exigidas em editoriais, matérias opinativas, entrevistas tendenciosas,etc., mesmo que nenhuma prova contra essas pessoas seja apresentada, invertendo assim a proposição constitucional de que o ônus da prova cabe ao acusador.
A situação aqui ultrapassa os limites da estranheza, pois os Sarney, Barbalho, Renan, etc., que participavam do consórcio do Poder, nunca foram importunados nos dois governos “demo tucano”. De repente, participando nos governos PT, PMDB, foram rebaixados à condição de marginais. Até problemas de cunho intimo familiar, que não deveriam fazer parte do noticiário político, foram revelados só porque participaram e apoiaram uma coalizão não muito favorável ao “Império”. Alguma coisa cheira mal no comportamento da mídia.
Este estalo despertou-me a algumas semanas atrás quando do lançamento do livro “Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que denuncia, com muitas provas documentais, as bandalheiras que enriqueceram, ilicitamente, muitos tucanos quando as empresas estatais, propriedade do povo, foram privatizadas – ou doadas? Surpreendentemente, o chamado jornalismo investigativo não dedicou uma linha sequer sobre a verdadeira “montanha” de denúncias contidas no livro que seriam suficientes para justificar o pomposo título adotado por esses órgãos de informação. O que se ouviu aqui, ou foi um silencio total, ou a então patética defesa, que aquela empresa que vive dizendo que só tem o “rabo preso” com o leitor, tentou fazer da “tucanalha” envolvida.
Sob o argumento de que recibos de operações duvidosas, realizadas no exterior pela filha de um conhecido político paulista, não provam que houve “lavagem” de dinheiro e que por isso o assunto não mereceria atenção da redação. O argumento aqui então é de que denuncias sem provas não merecem a atenção da redação. De pleno acordo, estranho apenas que a mesma postura não seja adotada quando a denuncia é contra o outro lado.
Outro fato intrigante ocorreu no dia 18 de dezembro, no programa Manhattan Conection da Globo News: Ricardo Amorim discorria, respondendo a pergunta do âncora Lucas Mendes, sobre os resultados da invasão americana ao Iraque e dizia que o número de vidas perdidas no conflito – 4500 soldados americanos e mais de 100000 iraquianos – havia sido um preço muito alto para um resultado tão pífio, e repentinamente foi interrompido por Diogo Mainardi que, alem da má educação, pois interrompeu sem pedir licença a quem estava com palavra, fez uma defesa ridícula da ação americana tentando argumentar que seu interlocutor escondia que entre a posse de Busch e a invasão americana houve o onze de setembro, como se o onze de setembro tivesse causado a invasão. E não foi só. Outro participante do programa, Caio Blinder, também se apressou em defender os americanos, tentando minimizar as conseqüências da tragédia iraquiana afirmando que as mortes dos iraquianos não eram responsabilidade dos americanos, mas dos próprios iraquianos que se mataram entre si.
E o estranho aqui é que Ricardo Amorim só estava relatando os fatos sem expressar nenhum juízo de valor sobre a invasão, e só porque os fatos eram eticamente desfavoráveis aos americanos os dois “lacaios” se apressaram em defender seus patrões. Sim, porque eu não acredito que foi por achar que a causa da invasão era justa que eles fizeram papel tão ridículo no programa. Eles tinham que justificar seus salários. Ou então alguém, por favor, me explique de onde o Seu Mainardi tira o seu sustento. Não pode ser das asneiras que escrevia antes ou das bobagens que fala agora, porque se fosse, certamente morreria de fome.
Antigamente, os comunistas do Brasil eram acusados de traidores da pátria por supostamente receberem um tal de “ouro de Moscou”, e isso nunca foi provado. Muitas barbaridades foram cometidas baseadas nesse “argumento”: prendeu-se, torturou-se, matou-se, exilou-se, caçou-se direitos políticos e impediu-se a livre manifestação das idéias, enfim, impediu-se o desenvolvimento da democracia. Entretanto, aqueles que acusavam ontem, estão sob suspeita hoje e não querem que seus “mal feitos” sejam investigados. Contam para tal com a cumplicidade da mídia, que ignoram as denuncias contidas e documentadas no livro do Amaury Ribeiro Jr., ou então tentam defender os acusados porque pensam que estão acima da lei. Afinal, quando vão investigar os recebedores do “ouro de Washington”?

sábado, 18 de junho de 2011

O ENIGMA DA INFLAÇÃO

O ENIGMA DA INFLAÇÃO.
O que é inflação?
Muito embora para os trabalhadores a inflação seja um enigma, ela têm algumas definições. Para o Minidicionário Aurélio, inflação é o aumento geral de preços com a conseqüente desvalorização do dinheiro. Mas para David Ricardo , economista britânico considerado por muitos como o pai da economia política clássica , inflação é o aumento dos preços de mercado .
Duas definições semelhantes que comporta uma diferença: a primeira , fala de aumento de todos os preços e , a segunda , de aumento nos preços de mercado . A definição de Ricardo nos leva à conclusão de que há outros preços além dos de mercado. E, de fato, examinando a obra de Ricardo PRINCÍPIOS DE ECONOMIA POLÍTICA E TRIBUTAÇÃO encontramos o capítulo IV intitulado Sobre o Preço Natural e o de Mercado
Aqui, Ricardo define o preço natural como a quantidade de trabalho necessária para produzir uma mercadoria. E nos informa que o preço de mercado, por conta de algum acidente, está sempre acima do preço natural, embora sua tendência seja igualarem-se com o tempo , mas que isso nunca acontece . O que me leva a concluir que a inflação é a diferença entre o preço natural e o de mercado, E que, portanto, é o preço de mercado que determina o lucro do capitalista.
Mas o que é o lucro ?
Proudhon definia o lucro como sendo um roubo! O que os economistas da época achavam um exagero, Porém, segundo Paul Singer, “Ricardo definia o lucro como um resíduo, uma sobra que ficava com o capitalista depois que este pagava a renda da terra ao proprietário da terra e o salário do trabalhador. Isso ocorre porque o produto , cujo valor é determinado pela quantidade de trabalho que custou , é apropriada pelo capitalista ...” Já Ladislau Dowbor , define o lucro como trabalho não pago pelo capitalista . Essas definições, parecem-me apenas uma maneira civilizada e elegante de dizer que o lucro é um roubo.
Como se dá então esse roubo?
Karl Marx, em sua obra O CAPITAL, explica que “a força de trabalho tem a particularidade de poder produzir mais valor do que o necessário para a sua reprodução . Mas o capitalista só paga ao trabalhador o mínimo necessário para este manter-se vivo e produzindo , ficando o capitalista com a sobra do que foi produzido”. Ou seja, o capitalista só paga uma parte mínima do que o trabalhador produziu . Eis aí, pois, a origem do lucro, definido por Proudhon como um roubo. Parece-me que ele tem razão. O que leva à conclusão de que o lucro do capitalista é a própria inflação.
Se o preço natural é quantidade de trabalho necessário para produzir uma mercadoria. E se o preço de mercado de mercado nunca cumpre sua tendência natural: igualar-se com o preço natural, concluí-se que o preço de mercado nunca cumpre sua tendência natural porque se cumprir o capitalista não terá seu lucro. O que leva a uma conclusão mais surpreendente ainda: que o lucro não é tão natural como apregoam os capitalistas e seus defensores: banqueiros, grandes comerciantes, economistas muito bem pagos e a “grande mídia”.
Abordo esse tema agora porque assisto, não sem surpresa, a uma violenta campanha da “grande mídia”, patrocinada pelos capitalistas, contra os salários dos trabalhadores. Tudo isso; porque está previsto para o começo de 2012 um aumento de 13% a 14% no salário mínimo . Essa campanha combina o terror que aqueles economistas muito bem pagos espalham através da “grande mídia”, com a remarcação descarada de produtos, que em alguns casos chegam a alcançar 13 ou 14% de aumento , o mesmo índice de aumento previsto para o salário mínimo em janeiro! E esses economistas justificam essa aberração dizendo que isso está ocorrendo porque o governo indexou o salário mínimo à inflação, e que as categorias que terão reajustes no segundo semestre não poderão ter aumentos reais, se não a inflação explode!
O mais engraçado, se não fosse trágico , é que os capitalistas indexam seus preços ao salário mínimo já agora , e quando ocorrer o reajuste do mínimo em janeiro , eles aumentarão seus preços de novo. Comportando-se assim, ainda têm a “cara de pau” de criticar a indexação do salário mínimo . Pior ainda, falam em descontrole da inflação , quando em realidade , ela começa a dar sinais de queda: nos últimos doze meses ela chegou 6,55%, mas a partir de abril ela iniciou um leve movimento de queda que se manteve em maio , isto é , em um ano a inflação subiu , mas no mês ela começa a cair . Porém, isso não é informado, e, mesmo a taxa apurada nos último doze meses , não justifica 13% de aumento nos preços .
Mas o que pretendem os capitalistas e seus economistas muito bem pagos com esse terrorismo injustificado?
Num primeiro momento visam os salários, mas eles têm pretensões muito maiores: acabar com nossos direitos trabalhistas para aumentar seus lucros que já são enormes . Alguém poderia argumentar que o preço de mercado está se aproximando perigosamente do preço natural e que isso colocaria o sistema em risco, Só que esse argumento não se sustenta, porque além de a remarcação de preços estar correndo solta, os juros pagos pelo governo, um dos maiores do mundo , garantem os lucros dos capitalistas e , portanto, esse risco não existe .
Outro argumento apresentado, este de forma mais clara, é que a folha de pagamento tem que ser desonerada para enfrentar a concorrência internacional. Enfrentar a concorrência internacional atacando os salários cara pálida? A grande verdade é que eles querem mesmo é aumentar o produto do roubo chantageando-nos: se não aceitarmos isso as empresas fecham e ficaremos sem emprego. E, se acaso, reclamarmos do roubo, do terror e da chantagem do capitalista, seremos nós os criminosos , seremos taxados de agitadores fora da lei pela “grande mídia” patrocinada pelos capitalistas .
E nós, trabalhadores, verdadeiros alvos desses ataques, como reagimos?
Isolados em nosso local de trabalho, tendo acesso às informações somente através da “grande mídia”, somos “teleguiados” e não percebemos que é nossa vida que está sendo resolvida nesses ataques. Pensamos que o governo é que será derrotado, e achando que não é conosco ficamos olhando como é que está para ver como é que fica, e qualquer contra - tempo, tentamos resolver na próxima eleição. Como não conseguimos decifrar o enigma dessa esfinge chamada inflação, de tempos em tempos somos devorados por ela. Acreditando nas ilusões que a “grande mídia” nos vende, pensamos poder voar e quando menos esperamos, somos abatidos em pleno “vôo”. Economia bombando, emprego crescendo, crédito fácil, vamos às compras, parece um sonho! De repente, sem prévio aviso, crise, desemprego, dívidas! Como pagá-las? Desorientados, arruinados, sem ter a quem recorrer, só nos resta o desespero e a espera por um milagre.
E os nossos “representantes”, os “companheiros” sindicalistas, como reagem?
Esses, salvo raríssimas e honrosas exceções, vivem outra realidade. Não compartilham mais com a gente as mesmas preocupações. Seus empregos estão garantidos. Suas dívidas não correm nenhum risco de não serem pagas. Andam em carrões do ano e exibem seus celulares de última geração. Só viajam de primeira classe e quando vão nos representar, não o fazem de maneira satisfatória. A alguns anos, um grupo de sindicalistas foi à Alemanha negociar na matriz umas reivindicações para os trabalhadores da filial brasileira. Voltaram sem nada para estes, mas foram flagrados por algumas câmeras indiscretas desfrutando as delícias que a badalada noite alemã oferece a quem pode pagar. Vieram de mãos abanando, mas divertiram-se à bessa.
Recentemente, trabalhadores da construção civil, que trabalham na construção de usinas hidroelétricas no Rio Madeira, no norte do país, entraram em greve reivindicando aumento de salário e condições dignas de trabalho: alimentação decente, alojamento limpo, tratamento respeitoso por parte dos feitores, etc. Como não houve acordo, a CUT mandou um representante para negociar. Este, chegou lá como se fosse um feitor da obra, e foi logo ordenando: “Voltem ao trabalho que eu quero ver essa usina funcionando, e vocês não têm do que reclamar”. Pode uma coisa dessas?
Em 12 de maio, Artur Henrique, presidente da CUT nacional, publicou no jornal carioca O Globo, um artigo intitulado Salário não é vilão. O texto tenta fazer uma defesa dos salários. Mas ao reivindicar que outros fatores que causam inflação, como o lucro, também sejam mostrados pela “grande mídia”, ele admite uma certa vilania dos salários. Quando afirma que o lucro causa inflação, deixa de denunciar que o lucro é a inflação, e suas palavras parecem mais um pedido para que os capitalistas se contentem com um lucro menor, do que um verdadeiro chamado aos trabalhadores para a luta! E o artigo, aparentemente combativo, soa mais como bravata do que como real convicção. É por essas e por outras que não confiamos mais nesses “representantes”.
Mas isso tem que mudar. E os exemplos chegam de todo lugar: do mundo árabe, com suas revoltas sem lideranças. Da Europa, onde os trabalhadores não aceitam o aperto promovido pelos capitalistas, e ocupam as praças e até o Parlamento, como em Barcelona. Até mesmo aqui do Brasil, onde os trabalhadores do norte e nordeste rebelaram-se contra os baixos salários e as péssimas condições de trabalho a que eram submetidos.
Mas, apesar dessas boas noticias, é preciso prestar atenção na “grande mídia” e naqueles economistas muito bem pagos, que quando falam parecem funcionários do Departamento de Estado norte-americano. Para assim, não nos iludirmos mais com as “fantasias” que tentam nos vender, nem nos apavorarmos com seu terrorismo e muito menos, nos intimidarmos com suas ameaças. Além disso,prestar atenção nesses que dizem nos representar, que só nos chamam de companheiros, mas que parecem mesmo é companheiros dos capitalistas. Decifrar esse enigma todo deve ser a nossa palavra de ordem!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ELES ESTÃO DE OLHO NO MEU, NO TEU, NO NOSSO SALÁRIO!


Aonde vamos parar?
No final do ano passado, escrevi sobre o abuso em que está se transformando o “desconto em folha”.
Sindicalistas, aproveitando-se da desinformação reinante nas categorias, subtraem partes substanciais de nossos salários via “contribuições” assistencial, confederativa e outras decididas em assembléias, em que vota-se em bloco, sem maiores esclarecimentos do que está sendo votado. Acreditando estar votando só em melhorias, os participantes votam sem perceber que neste bloco está embutida tal contribuição.
Esta decisão, que por entendimento do Poder Judiciário, deveria valer só para os trabalhadores sindicalizados, é estendida aos não sindicalizados, configurando-se assim, do ponto de vista jurídico, uma ilegalidade!
Comentei que a prerrogativa de criar contribuições era do Poder Legislativo, e que isso já era um perigo. Não é que esse perigo está se concretizando! Já existe um projeto de lei, aprovado no Senado, aguardando votação na Câmara dos Deputados, que visa legalizar tais contribuições. O detalhe é que esse projeto é inconstitucional, já que “a Constituição Federal em seu artigo 8°, inciso v, estabelece que ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato”, e, portanto ninguém está obrigado a contribuir contra a sua vontade, já que é a contribuição que estabelece a filiação. Ou seja, a Constituição Federal garante o meu direito de usufruir a minha liberdade de escolha.
Perante este fato, você que está lendo essas linhas, que sabe o sacrifício que é ganhar o seu salário e que não concorda com essas manobras que dificultam ainda mais nossas vidas tem que se manifestar. Envie mensagens de repúdio a esse projeto inconstitucional à Câmara dos Deputados, denuncie-o ao Ministério Público do Trabalho, reclame ao Supremo Tribunal Federal-Guardião da Constituição, escreva aos jornais, enfim não se entregue, pois se hoje, sem lei, eles querem 13% do nosso salário, imagine o que vão querer se conseguirem aprovar no Congresso Nacional tal lei!
A Internet, que ainda é livre, é um excelente veículo para escoar nossas reivindicações. Vamos aproveitá-la enquanto podemos!


Site do STF: WWW.stf.jus.br
Site da Câmara dos Deputados: WWW.camara.gov.br
Site do MPT: WWW.mpt.gov.br

domingo, 10 de janeiro de 2010

Viva o Zé do Caroço !

VIVA O ZÉ DO CAROÇO!

Quem conhece o Zé do Caroço?
Aquele do samba, de Leci Brandão, acho que todo mundo conhece. Pois é dele mesmo que estou falando. Personagem real, que, utilizando um serviço de auto-falante, presta um grande serviço de utilidade pública à sua comunidade no Rio de Janeiro.
Imagine agora se Zé do Caroço morasse em São Paulo. Não haveria esse serviço prestado por Zé do Caroço, nem o belíssimo samba de Leci, pois por esses lados , as emissoras comerciais, com destaque para a Radio Bandeirantes, promovem uma perseguição sem tréguas às rádios comunitárias, que eles chamam de “rádios piratas”. Alegam que as chamadas “rádios piratas”são ilegais, e que ocupam a freqüência dos rádios dos aviões colocando-os em risco. O que pode ser verdadeiro, mas o que elas não contam é que, por pressão das emissoras comerciais, a política de concessão do governo inviabiliza a legalização das rádios comunitárias e,conseqüentemente, a segurança dos vôos.
Mas, as emissoras comerciais não estão preocupadas com a segurança dos aviões, pois se estivessem, não pressionariam tanto o governo para ditar regras que inviabilizam a concessão de freqüências para as emissoras comunitárias. Com regras viáveis, as emissoras comunitárias teriam suas freqüências garantidas e não precisariam “invadir”a freqüência dos aviões. As emissoras comerciais estão preocupadas, de fato, é com seus interesses. Querem é garantir suas posições, não aceitam novos concorrentes. Defendem a livre concorrência, mas só para os grupos já existentes, ou então para grupos milionários ou estrangeiros Um interesse importante, que talvez só perca para o interesse financeiro, é o do monopólio da informação, porque este monopólio, facilita o controle sobre a opinião pública, já que com isto passam a informação do jeito que lhes interessa. E não adianta mudar da Bandeirantes para a CBN, da CBN para a Eldorado,
da Eldorado para a Jovem Pan, que a informação esta lá do mesmo jeito, e não dá para saber porque, sem invadir nenhum território, não estar envolvido em nenhuma guerra, Hugo Chávez é considerado de guerra, e Barack Obama, estando envolvido em todas as guerras e invasões do Globo terrestre, é considerado de paz!
Porém, esse pecado não é exclusividade das emissoras comerciais. Pode-se afirmar que toda “grande mídia” padece desse defeito. O que está dito acima, vale para toda a “grande mídia”: rádio, jornal, revista, televisão.
No final do ano passado, foi realizada a primeira Conferência de Comunicação em Brasília, com a participação da “Grande Mídia” e de amplos setores da chamada sociedade civil: entidades populares representando a luta pela viabilidade das rádios comunitárias, o Poder Legislativo, o Poder Executivo, enfim, um grande número de interessados no tema. Mas, a “Grande Mídia” só deu destaque às suas posições. Tudo que era do interesse das entidades populares, ou foi ignorado, ou foi bombardeado pela “Grande Mídia”. Parece que houve debate, mas só a TV Senado deu uma cobertura mais abrangente, pois na última semana do ano fez várias entrevistas com alguns participantes do evento. Entretanto, o pouco que a “Grande Mídia” divulgou é suficiente para perceber suas intenções: inviabilizar qualquer proposta para democratizar as comunicações, regulamentar e controlar os conteúdos da Internet e outras. A Folha de São Paulo, por exemplo, quer cobrar os internautas que utilizam o conteúdo de sua mídia impressa – o jornal – porque paga os jornalistas. Parece razoável, não fosse o fato que quando compro o jornal na banca, já paguei pelo seu conteúdo, que, a partir daquele instante, passa a ser meu também. A ironia é que a Folha, assim como a “Grande Mídia”, fazem o maior barulho acusando a outra parte de antidemocrática, inimiga da liberdade de expressão etc. Mas o que se vê é os “democratas” rasgarem os princípios da democracia e da liberdade de expressão, querendo impedir, a exemplo do que ocorre em alguns países muito criticados pela “Grande Mídia”, o funcionamento livre da Internet e de outras formas mais baratas e acessíveis de comunicação.
Estão defendendo seus interesses dirá alguém. È verdade, mas quando defendem seus interesses, negam os meus, pois se é verdade que quero ser informado do que se passa no mundo, também quero ser informado do que se passa em meu bairro. Se quero conhecer a cultura cosmopolita, também quero conhecer a cultura de minha região, a autêntica cultura produzida pelas periferias. Quero ouvir samba e outros gêneros com os artistas consagrados, mas quero ouvir também o hep do”Trilha Sonora do Gueto”e outros que são desconhecidos da “Grande Mídia”. Mas a “Grande Mídia só quer é conduzir a opinião pública, formar a opinião da “sociedade”.Aqueles que querem colocar um contra ponto, que querem fazer um debate honesto, são ignorados, varridos da “arena” das idéias. E a “Grande Mídia” ainda tem a cara de pau de reclamar que não há debate na sociedade. Ter debate como, se eles interditaram o debate afastando quem pensa diferente no conteúdo, mas não na forma! Se o porta-voz da “Grande Mídia”,Boris Casoy, acha absurdo dois lixeiros cumprimentarem os jornalistas da Band do alto de suas vassouras, imagine o que ele pensa da periferia ter suas próprias rádios comunitárias.
Por isso,faço um pedido àqueles que lutam por democracia nas comunicações, que não se entreguem, continuem na luta , pois ela é muito importante.Não vamos deixar Zé do Caroço sozinho. E aos artistas da periferia, sigam o exemplo de leci Brandão, homenageiem esses heróis da resistência, faça-os conhecidos como Zé do Caroço!


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