quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

TIRE ESSA MÃO GRANDE DO MEU SALÁRIO!

TIRE ESSA MÃO GRANDE DO MEU SALÁRIO!

O que é o salário?

Em poucas palavras: salário é meio de vida, pelo menos para aqueles que desejam ganhar a vida biblicamente, isto é, com o suor do rosto. Mas não é porque o salário é meio de vida que ele cai do céu ou seja ato de generosidade de quem quer que seja.O salário é fruto de trabalho. E só quem depende de salário, sabe o quanto é duro ganha-lo. E, na maioria das vezes, o salário não garante a vida decente que o trabalhador merece. Mas seja muito ou seja pouco , o salário é de quem trabalhou, isto é, o salário tem dono!
Mas, se o salário tem dono, por que então ele é tratado como coisa de ninguém por patrões, governo e sindicalistas? Por que essa gente faz o que quer com nosso salário? Tanto sacrifício para ganhá-lo e, alguém de fora, sem fazer o menor esforço tira-o! Como é possível?
Para responder é preciso recorrer à História.
Houve um tempo que o trabalhador não tinha nenhum direito. Só o salário, que mal dava para mantê-lo em pé produzindo. Jornadas extenuantes, nenhuma assistência médica, abuso sexual contra mulheres e crianças, todo tipo de humilhação era a rotina da fábrica. Mas, como todos desejam vida digna, com os trabalhadores não é diferente, estes rebelaram – se contra essa situação. Influenciados por trabalhadores que vieram da Europa, onde havia algum direito, munidos apenas de sua revolta, de seu desejo de vida digna e clamando por respeito, foram à luta, causando grandes transtornos, tirando a paz e o sossego dos patrões e do governo. Assim surgiu o sindicato, sem sede, sem carro de som, enfim, sem nenhum recurso desses que é visto hoje.
Com essa situação, os trabalhadores adoeciam fácil, morriam cedo, eram presos e ficavam desempregados por conta da luta, deixando suas famílias desamparadas. Os companheiros de trabalho, que permaneciam na fábrica, juntavam-se e doavam, espontaneamente,parte de seus salários para ajudarem as famílias na sobrevivência quando o companheiro adoecia, era preso ou ficava desempregado e ajudavam no enterro quando o companheiro morria. Nascia assim, a contribuição, singela,honesta, generosa, solidária e com finalidade definida: socorrer os que tombavam, embrião da previdência.
A resposta dos patrões e do governo a essa reação foi, num primeiro momento, a conhecida violência, a perseguição, a deportação dos trabalhadores estrangeiros que se destacavam na luta. Não obtendo resultados, pois a luta só fazia aumentar,o governo e os patrões estudam um outro meio para derrotar os trabalhadores. Encontram, não sem divergências, na Itália fascista, um caminho, que consiste em reconhecer algum direito para os trabalhadores, mas mantendo-os sob controle. Como? Entre os direitos reconhecidos estava o direito de legalizar o sindicato, reivindicado pelos trabalhadores, mas, para ser legal, tinha que ser reconhecido por um novo Ministério: o do trabalho, que fazia uma série de exigências que inviabilizavam luta como ela nascera, pois a diretoria teria que ser da inteira confiança do governo. Afasta-se assim as lideranças autênticas da luta e aparece aqui o pelego sindical, cuja função é exercer o controle sobre os trabalhadores.
Como o pelego tinha que ser afastado da fábrica, pois era odiado pelos trabalhadores, o governo tinha que garantir a sobrevivência desse “vira-casaca”. Para financiar esse plano, o governo criou o imposto sindical, que consiste em descontar, uma vez por ano, um dia de salário do trabalhador, ou seja, o controle dos trabalhadores será custeado com o dinheiro do próprio trabalhador. É assim que se inaugura o desconto em folha ( é aqui que o salário vira coisa de ninguém), uma nova modalidade de roubo! Roubo sim, pois se tiram sem minha permissão e contra a minha vontade, é roubo! Entende-se assim o velho ditado popular: “ Getulio dá com uma mão e tira com a outra!”
O plano deu certo. A paz voltou aos lares dos patrões, e, porque não dizer, aos lares dos trabalhadores também. A velha história de lutas foi apagada e apropriada, indevidamente, pelos pelegos contemporâneos, que a usa como justificativa para explicar os maiores absurdos que praticam contra os trabalhadores. “Vitoriosos”, sentem-se livres para atacar nosso salário! Um dia só de salário ao ano já não basta, é preciso mais, muito mais. Sem nenhuma legitimidade, pois não têm o poder para instituir leis, criam contribuições abusivas e avançam sem dó nem piedade em nosso bolso. Para tanto, contam com a conivência dos “velhos aliados”, que desrespeitando entendimento dos Tribunais, descontam de nosso salário essas contribuições criadas indevidamente, pois isso é prerrogativa do Poder Legislativo, o que por si só já é um perigo!
O CIESP, sessão Guarulhos, mostrou-se muito cioso de seus interesses quando recorreu à Justiça desta cidade para negar aos trabalhadores de suas afiliadas o feriado de 20 de novembro, “Dia da Consciência Negra”.Porém, não revelou o mesmo cuidado quando foi para defender os interesses destes trabalhadores!Pois, permitiu que suas afiliadas descontassem, em três meses seguidos uma contribuição assistencial (duas de 4% e uma de 5% do salário).Desconto esse que fere determinação do Tribunal Superior do Trabalho, que pelo precedente normativo 119, estabelece que os trabalhadores não sindicalizados estão desobrigados de tal contribuição imposta pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos!
Em nossa Constituição, há um artigo que garante a inviolabilidade do lar.Muito justo!Mas falta um artigo que garanta a inviolabilidade do salário, pois salário é meio de vida. É preciso pois, disciplinar essa farra do desconto em folha.
Não podemos mais ser surpreendidos por sindicalistas oportunistas, perdoem-me o pleonasmo, que volte e meia inventam contribuições para, sem nossa permissão, abocanharem fatias de nosso salário, como se o salário não tivesse dono!Para isso, é preciso inverter a ordem vigente que recomenda a quem não concorde que se manifeste, quer dizer, reclamar depois do prejuízo, já que, só somos informados com o desconto consumado.Quem tem que se manifestar é quem está disposto à abrir mão do que é seu.
A solução varguista prosperou.Hoje há sindicato de tudo, pois sindicato é um grande negocio! O peleguismo varguista corrompeu todas iniciativas dos trabalhadores em busca de uma vida digna.E hoje, do conforto e no sossego de nossos lares não nos damos conta do que foi conquistado por nossos antepassados!E não nos damos conta de como “a esperteza” de nossos sindicalistas não tem limites, pois eles, apropriando-se de conquistas que não são deles, a usam como moeda de troca e exigem pagamento através de contribuições que não são reconhecidas pelos Tribunais e nos não reagimos, será por que esse é o preço de nosso sossego?E nós, o que deixaremos para gerações futuras?