quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Um mundo mais justo, ou um grande bordel?

Um mundo mais justo, ou um grande bordel?



Quem era Václav Havel ?
Confesso que nunca me interessei muito por sua biografia . Mas sabia que ele tinha sido o presidente da República Checa depois da queda do chamado “socialismo real” na Europa oriental.
Mas, no dia dezenove de janeiro último, deparo-me com um artigo de Demétrio Magnoli, na página dois do Estadão, exaltando o “heroísmo” de Havel. Aí comecei a desconfiar. Não por Havel, mas por seu fiador, já que o senhor Magnoli é dessas figuras estranhas que, saídas do nada, começam a freqüentar as telas de nossa TV, os microfones do nosso rádio, as páginas dos jornais e revistas que compramos.
A primeira impressão que tive desse cidadão foi positiva, pois, não se pode negar, ele domina como poucos a arte da retórica. Sua retórica envolvente ensinando e defendendo uma “democracia” era convincente. Só que o “professor” não praticava o que ensinava e defendia, e um dia a máscara caiu, pois ao assistir a um documentário da TV Câmara que tratava das cotas para negros e pobres na UNB, fiquei sabendo que a estranha figura e sua turma eram contra a medida.
Ter opinião em uma democracia é a coisa mais normal do mundo, até aí nada de mais. No entanto, uma pessoa pública como Magnoli, recusar-se a debater publicamente sua opinião não é normal. Pois foi o que ele fez no lançamento do seu livro que condenava as cotas para negros nas universidades. Convidou sua turma para um “debate” em que não haveria contraditório, já que a parte que era atacada em seu livro não tinha direito à defesa, pois não fora convidada. Então, como chamar a isso de debate?
Aqui, apenas começava minha desconfiança, que foi se confirmando com o passar do tempo e um pouco mais de atenção ao que o sujeito dizia. Defendendo qualquer ação dos Estados Unidos no Oriente Médio ou em outro lugar qualquer, invertendo habilmente o sentido das palavras e dos conceitos, ele envolve com sua retórica o espectador, o ouvinte ou o leitor desatento.
Senão vejamos o “ilusionismo” do “professor”. Já no primeiro parágrafo do artigo do dia dezenove de janeiro ele tasca cinicamente:... “o contrário do comunismo não é o capitalismo, mas a verdade”. A um interlocutor desatento, a frase surtirá o efeito desejado, já que passará despercebida a intenção do articulista em inverter a lógica dos sistemas, pois o capitalismo sim é sinônimo de mentira – o verdadeiro oposto de verdade, e não o comunismo, que como sistema econômico nunca foi sequer experimentado permanecendo ainda como simples utopia, pois o que houve no leste europeu foi a tentativa de se implantar o socialismo, que enfrentou problemas, e a estranha figura sabe muito bem disso.
Como todo o artigo é essa tentativa de inversão total dos valores, resolvi procurar saber se pelo menos os elogios feitos pelo articulista eram merecidos. Comparei então o que de melhor se falava da Checoslováquia à época do chamado socialismo real com o que se fala de melhor da República Checa hoje. E bingo! Aqui a inversão também é gritante, pois na época do chamado socialismo real, o que de melhor se falava da Checoslováquia era de suas máquinas operatrizes, consideradas as melhores do mundo então! O que se fala de melhor da República Checa hoje é de suas jovens mulheres, consideradas as mais belas da Europa, abastecendo os prostíbulos e a “indústria” de filmes pornográficos pelo mundo afora!
E é nesse contexto conturbado, onde tudo que o articulista escreve deve ser entendido ao contrário, que ele induz a presidente Dilma Roussef a ficar ao lado da “blogueira” cubana Yoani Sanches na luta que esta trava contra o governo cubano. Tudo pareceria normal, não fosse o fiador da “moça” e o governo contra o qual ela luta. Cuba, antes da Revolução era tachada de o “ bordel da América”, onde reinava o analfabetismo, o abandono do povo pobre pelo governo, a corrupção, a miséria e onde os ricaços americanos divertiam-se a valer satisfazendo suas taras, assim como hoje a República Checa é tachada de o “bordel da Europa”. Depois da Revolução, isso acabou, e Cuba passou a ser referência mundial em saúde e educação, o que talvez tenha permitido a essa senhora desafiar um governo que deu atendimento às necessidades básicas da população, coisa que não havia antes da Revolução. O que havia era o “grande bordel” da América e sem a Revolução talvez essa “blogueira” fosse uma analfabeta e freqüentadora do bordel. É isso que ela quer para suas compatriotas?
Parece que o mundo quer retornar àquele “período de trevas” onde o ser humano não valia nada. Às vezes parece que a humanidade perdeu totalmente a razão. Mas só parece, porque há quem ainda se rebele contra tal situação. O jornalista Fernando Morais, autor de um livro sobre Cuba intitulado A Ilha, sempre que é entrevistado repete a frase exposta em um outdoor de Cuba: “Esta noite 200 milhões de crianças vão dormir na rua em todo mundo. Nenhuma delas é cubana”. Que fato extraordinário! Ele faz isso tentando sensibilizar aqueles que se desumanizaram e não estão nem aí para seus semelhantes. Mas parece que suas tentativas têm sido em vão! Apesar da constante insistência, suas palavras parecem cair no vazio, já que defensores do lixo capitalista nascem e crescem mais que “erva daninha”.
Por quê?
Porque eles querem transformar o mundo naquele “grande bordel” que era Cuba antes e que é a República Checa hoje. Só que com um pequeno detalhe cidadão e cidadã desatentos: eles querem que nossas filhas animem esse bordel. E nós, a não ser que sejamos parvos ou idiotas como aquele pai que assistiu ao estupro da filha em rede nacional de TV e achou bom, devemos reagir contra essa intenção. Para nós, pais e mães, a questão está colocada: queremos um mundo que atenda as necessidades básicas de nossos filhos e filhas como ocorria nos países socialistas, ou queremos um “grande bordel” onde nossas filhas serão a mercadoria? Se houve problemas na primeira experiência socialista, é necessário corrigi-los e não destruir uma experiência que se revelou superior ao capitalismo, já que sua vigência forçou os capitalistas a cederem direitos nunca desfrutados antes do advento socialista.
Muitos pais e mães, premidos pelo hábito, ainda desconfiam da proposta socialista e são presas fáceis para o discurso da dupla de “supostos” funcionários do Departamento de Estado norte-americano. Magnoli e Sanches querem a volta do bordel cubano, como Havel instalou na República Checa. Mas a juventude, que sente na pele os efeitos nocivos do capitalismo e não querem ver a dignidade humana pisoteada, já decidiu dizer não a essa quadrilha ocupando as praças e as ruas do mundo e desconfia dos falsos heróis e dos discursos que invertem a realidade dos fatos.
Como se vê, os esforços de Fernando Morais não têm sido em vão como parecia,pois se é verdade que a retórica envolvente de Magnoli e a propaganda insidiosa de Sanches ainda conseguem enganar aos desatentos, é preciso reconhecer também que o discurso humano de Fernando Morais encontra eco na juventude e em pessoas maduras que não se desumanizaram e resistem, ainda que de forma meio desorganizada, a mais essa barbárie capitalista. Se essa “senhora” quer se prostituir, o problema é dela! Agora se quer prostituir nossas filhas, o problema é nosso.