sábado, 18 de junho de 2011

O ENIGMA DA INFLAÇÃO

O ENIGMA DA INFLAÇÃO.
O que é inflação?
Muito embora para os trabalhadores a inflação seja um enigma, ela têm algumas definições. Para o Minidicionário Aurélio, inflação é o aumento geral de preços com a conseqüente desvalorização do dinheiro. Mas para David Ricardo , economista britânico considerado por muitos como o pai da economia política clássica , inflação é o aumento dos preços de mercado .
Duas definições semelhantes que comporta uma diferença: a primeira , fala de aumento de todos os preços e , a segunda , de aumento nos preços de mercado . A definição de Ricardo nos leva à conclusão de que há outros preços além dos de mercado. E, de fato, examinando a obra de Ricardo PRINCÍPIOS DE ECONOMIA POLÍTICA E TRIBUTAÇÃO encontramos o capítulo IV intitulado Sobre o Preço Natural e o de Mercado
Aqui, Ricardo define o preço natural como a quantidade de trabalho necessária para produzir uma mercadoria. E nos informa que o preço de mercado, por conta de algum acidente, está sempre acima do preço natural, embora sua tendência seja igualarem-se com o tempo , mas que isso nunca acontece . O que me leva a concluir que a inflação é a diferença entre o preço natural e o de mercado, E que, portanto, é o preço de mercado que determina o lucro do capitalista.
Mas o que é o lucro ?
Proudhon definia o lucro como sendo um roubo! O que os economistas da época achavam um exagero, Porém, segundo Paul Singer, “Ricardo definia o lucro como um resíduo, uma sobra que ficava com o capitalista depois que este pagava a renda da terra ao proprietário da terra e o salário do trabalhador. Isso ocorre porque o produto , cujo valor é determinado pela quantidade de trabalho que custou , é apropriada pelo capitalista ...” Já Ladislau Dowbor , define o lucro como trabalho não pago pelo capitalista . Essas definições, parecem-me apenas uma maneira civilizada e elegante de dizer que o lucro é um roubo.
Como se dá então esse roubo?
Karl Marx, em sua obra O CAPITAL, explica que “a força de trabalho tem a particularidade de poder produzir mais valor do que o necessário para a sua reprodução . Mas o capitalista só paga ao trabalhador o mínimo necessário para este manter-se vivo e produzindo , ficando o capitalista com a sobra do que foi produzido”. Ou seja, o capitalista só paga uma parte mínima do que o trabalhador produziu . Eis aí, pois, a origem do lucro, definido por Proudhon como um roubo. Parece-me que ele tem razão. O que leva à conclusão de que o lucro do capitalista é a própria inflação.
Se o preço natural é quantidade de trabalho necessário para produzir uma mercadoria. E se o preço de mercado de mercado nunca cumpre sua tendência natural: igualar-se com o preço natural, concluí-se que o preço de mercado nunca cumpre sua tendência natural porque se cumprir o capitalista não terá seu lucro. O que leva a uma conclusão mais surpreendente ainda: que o lucro não é tão natural como apregoam os capitalistas e seus defensores: banqueiros, grandes comerciantes, economistas muito bem pagos e a “grande mídia”.
Abordo esse tema agora porque assisto, não sem surpresa, a uma violenta campanha da “grande mídia”, patrocinada pelos capitalistas, contra os salários dos trabalhadores. Tudo isso; porque está previsto para o começo de 2012 um aumento de 13% a 14% no salário mínimo . Essa campanha combina o terror que aqueles economistas muito bem pagos espalham através da “grande mídia”, com a remarcação descarada de produtos, que em alguns casos chegam a alcançar 13 ou 14% de aumento , o mesmo índice de aumento previsto para o salário mínimo em janeiro! E esses economistas justificam essa aberração dizendo que isso está ocorrendo porque o governo indexou o salário mínimo à inflação, e que as categorias que terão reajustes no segundo semestre não poderão ter aumentos reais, se não a inflação explode!
O mais engraçado, se não fosse trágico , é que os capitalistas indexam seus preços ao salário mínimo já agora , e quando ocorrer o reajuste do mínimo em janeiro , eles aumentarão seus preços de novo. Comportando-se assim, ainda têm a “cara de pau” de criticar a indexação do salário mínimo . Pior ainda, falam em descontrole da inflação , quando em realidade , ela começa a dar sinais de queda: nos últimos doze meses ela chegou 6,55%, mas a partir de abril ela iniciou um leve movimento de queda que se manteve em maio , isto é , em um ano a inflação subiu , mas no mês ela começa a cair . Porém, isso não é informado, e, mesmo a taxa apurada nos último doze meses , não justifica 13% de aumento nos preços .
Mas o que pretendem os capitalistas e seus economistas muito bem pagos com esse terrorismo injustificado?
Num primeiro momento visam os salários, mas eles têm pretensões muito maiores: acabar com nossos direitos trabalhistas para aumentar seus lucros que já são enormes . Alguém poderia argumentar que o preço de mercado está se aproximando perigosamente do preço natural e que isso colocaria o sistema em risco, Só que esse argumento não se sustenta, porque além de a remarcação de preços estar correndo solta, os juros pagos pelo governo, um dos maiores do mundo , garantem os lucros dos capitalistas e , portanto, esse risco não existe .
Outro argumento apresentado, este de forma mais clara, é que a folha de pagamento tem que ser desonerada para enfrentar a concorrência internacional. Enfrentar a concorrência internacional atacando os salários cara pálida? A grande verdade é que eles querem mesmo é aumentar o produto do roubo chantageando-nos: se não aceitarmos isso as empresas fecham e ficaremos sem emprego. E, se acaso, reclamarmos do roubo, do terror e da chantagem do capitalista, seremos nós os criminosos , seremos taxados de agitadores fora da lei pela “grande mídia” patrocinada pelos capitalistas .
E nós, trabalhadores, verdadeiros alvos desses ataques, como reagimos?
Isolados em nosso local de trabalho, tendo acesso às informações somente através da “grande mídia”, somos “teleguiados” e não percebemos que é nossa vida que está sendo resolvida nesses ataques. Pensamos que o governo é que será derrotado, e achando que não é conosco ficamos olhando como é que está para ver como é que fica, e qualquer contra - tempo, tentamos resolver na próxima eleição. Como não conseguimos decifrar o enigma dessa esfinge chamada inflação, de tempos em tempos somos devorados por ela. Acreditando nas ilusões que a “grande mídia” nos vende, pensamos poder voar e quando menos esperamos, somos abatidos em pleno “vôo”. Economia bombando, emprego crescendo, crédito fácil, vamos às compras, parece um sonho! De repente, sem prévio aviso, crise, desemprego, dívidas! Como pagá-las? Desorientados, arruinados, sem ter a quem recorrer, só nos resta o desespero e a espera por um milagre.
E os nossos “representantes”, os “companheiros” sindicalistas, como reagem?
Esses, salvo raríssimas e honrosas exceções, vivem outra realidade. Não compartilham mais com a gente as mesmas preocupações. Seus empregos estão garantidos. Suas dívidas não correm nenhum risco de não serem pagas. Andam em carrões do ano e exibem seus celulares de última geração. Só viajam de primeira classe e quando vão nos representar, não o fazem de maneira satisfatória. A alguns anos, um grupo de sindicalistas foi à Alemanha negociar na matriz umas reivindicações para os trabalhadores da filial brasileira. Voltaram sem nada para estes, mas foram flagrados por algumas câmeras indiscretas desfrutando as delícias que a badalada noite alemã oferece a quem pode pagar. Vieram de mãos abanando, mas divertiram-se à bessa.
Recentemente, trabalhadores da construção civil, que trabalham na construção de usinas hidroelétricas no Rio Madeira, no norte do país, entraram em greve reivindicando aumento de salário e condições dignas de trabalho: alimentação decente, alojamento limpo, tratamento respeitoso por parte dos feitores, etc. Como não houve acordo, a CUT mandou um representante para negociar. Este, chegou lá como se fosse um feitor da obra, e foi logo ordenando: “Voltem ao trabalho que eu quero ver essa usina funcionando, e vocês não têm do que reclamar”. Pode uma coisa dessas?
Em 12 de maio, Artur Henrique, presidente da CUT nacional, publicou no jornal carioca O Globo, um artigo intitulado Salário não é vilão. O texto tenta fazer uma defesa dos salários. Mas ao reivindicar que outros fatores que causam inflação, como o lucro, também sejam mostrados pela “grande mídia”, ele admite uma certa vilania dos salários. Quando afirma que o lucro causa inflação, deixa de denunciar que o lucro é a inflação, e suas palavras parecem mais um pedido para que os capitalistas se contentem com um lucro menor, do que um verdadeiro chamado aos trabalhadores para a luta! E o artigo, aparentemente combativo, soa mais como bravata do que como real convicção. É por essas e por outras que não confiamos mais nesses “representantes”.
Mas isso tem que mudar. E os exemplos chegam de todo lugar: do mundo árabe, com suas revoltas sem lideranças. Da Europa, onde os trabalhadores não aceitam o aperto promovido pelos capitalistas, e ocupam as praças e até o Parlamento, como em Barcelona. Até mesmo aqui do Brasil, onde os trabalhadores do norte e nordeste rebelaram-se contra os baixos salários e as péssimas condições de trabalho a que eram submetidos.
Mas, apesar dessas boas noticias, é preciso prestar atenção na “grande mídia” e naqueles economistas muito bem pagos, que quando falam parecem funcionários do Departamento de Estado norte-americano. Para assim, não nos iludirmos mais com as “fantasias” que tentam nos vender, nem nos apavorarmos com seu terrorismo e muito menos, nos intimidarmos com suas ameaças. Além disso,prestar atenção nesses que dizem nos representar, que só nos chamam de companheiros, mas que parecem mesmo é companheiros dos capitalistas. Decifrar esse enigma todo deve ser a nossa palavra de ordem!