sexta-feira, 17 de agosto de 2012

HORIZONTES OBSCUROS.

                                                HORIZONTES OBSCUROS.
 Para onde caminha a humanidade?
Já faz algum tempo que nossa juventude entrou para o noticiário policial, no mundo e, particularmente, no Brasil. Jornais, revistas, rádio e televisão não cansam de mostrar a situação degradante que chegou nossos jovens. Situação calamitosa, a julgar pelo noticiário, nos chamados países em desenvolvimento e, para surpresa geral, nos países desenvolvidos. Jovens imigrantes botam fogo em Paris e em outras cidades francesas no ano de 2010. Em 2011, foi a vez de Londres e outras cidades britânicas. Gangues de meninas com idades variando entre nove e doze anos apavoraram a Vila Mariana, bairro “classe média alta” da capital paulista. Jovens atuando como “soldados” do tráfico de drogas na verdadeira “guerra civil” que se trava nos morros e no asfalto do Rio de Janeiro. Várias gangues juvenis se enfrentam pelo país afora, com destaque para Brasília e São Paulo. “Pitt boys” agridem pessoas vistas como diferentes pelas principais avenidas de São Paulo. Jovens se consomem em drogas por todo o país, particularmente, nas chamadas “Cracolândias”. Jovens de “classe média” queimam pessoas vivas em Brasília e São Paulo. Jovens agredindo seus professores. Enfim, jovens morrendo, jovens matando! Parece que nossa juventude está perdida e, mais que isso, parece que está condenada. Como se chegou a essa situação? Analistas divergem sobre as razões. Para uns, foi a degradação da família a responsável por tal situação. Para outros, é o excesso de liberdade que a garotada desfruta, pois hoje eles não conhecem limites. Outros ainda, acham que foi a falência do sistema educacional leniente de hoje que, além de irresponsável já que aprendendo ou não o aluno é aprovado, é liberal demais, pois os conteúdos não são devidamente valorizados. Parece-me que aqui só são apontados os sintomas periféricos da doença. A questão central não é percebida em sua inteireza por esses diagnósticos. A doença, que parece ser a “mãe” de todas as outras, deve ser procurada lá nos meados da década de sessenta do século passado, quando o governo militar modificou praticamente toda a estrutura do ensino em nosso país. Trocou-se uma educação de caráter humanista que, assim como a filosofia e a ciência, favorecia o desenvolvimento do conhecimento, por uma educação de caráter tecnicista, importada dos países desenvolvidos, onde os alunos só reproduzem os conteúdos de sua especialidade. Ou seja, começava-se ali a implantação de uma sociedade da técnica onde impera o especialista. Os resultados dessa política nefasta, estão sendo conhecidos agora. Não há mais interesse pelo futuro. O que interessa é o aqui e o agora, a adrenalina, a emoção fugaz do momento. Por isso os jovens não participam mais da luta política e caem numa luta estúpida e fratricida de todos contra todos, destruindo-se uns aos outros, o que termina por gerar seres humanos apáticos, desconfiados de tudo e sem esperanças no amanhã. Isso ocorre porque o homem, generalista por natureza, tem que se especializar. Se especializando não cria nada de novo ou de seu, sua curiosidade é sufocada e ele só reproduz aquilo para o qual foi treinado. Então tudo é igual todos os dias. Já que o amanhã não será diferente de hoje, que interessa o amanhã? Como faz tudo sempre igual, não tolera a diferença e passa a agredir tudo que lhe parece diferente. Ou seja, se desumaniza, não aceitando mais a contradição e quem pensa diferente é seu inimigo. Esses são os primeiros adultos formados no tecnicismo que refletem agora seus comportamentos neuróticos em seus filhos. O tecnicismo privilegia a competição. Como se sabe, na competição o importante é vencer e para vencer, muitas vezes se usa a fraude, sabemos que a fraude é um desvio ético importante e que, em nome da vitoria, esse desvio ético é praticado com alguma freqüência em todos os campos da sociedade. Sabemos também que para alguém ganhar, alguém precisa perder e que perder em nossa sociedade não é muito bem visto. E é para não ser visto como perdedor que muitos jovens –não só os jovens –apelam para a fraude. Só que ao fazê-lo, leva uma vantagem anti-ética sobre seu adversário que perdendo injustamente é acometido pela revolta que causa a animosidade ou a já citada apatia. Mas todo jovem é assim? Claro que não, existem as exceções! Aqueles que mesmo formados para a competição resistem e reagem contra as barbaridades dessa sociedade neurótica. Embora filhos do tecnicismo, alguma humanidade foi neles preservada. Só que pagam alto preço por isso, pois quando protestam contra as injustiças e arbitrariedades dessa “sociedade”, são covardemente criminalizados por formadores de opinião. São esses os resultados dessa estrutura de educação tecnicista que privilegia a competição em detrimento da solidariedade, que obriga o homem a se especializar levando-o a pensar somente em reproduzir, e que nada criando de seu frustra a sua humanidade, diminui suas perspectivas e estreita seus horizontes. Ou seja, pensando em vencer a qualquer preço, perde-se a humanidade em troca de futilidades e promessas vazias. E, por aqui não se encontra saída. Se assim é, e sendo a juventude portadora do futuro, e estando desinteressada do futuro, ou condenada a não ter futuro, estaria a humanidade com seu futuro ameaçado? Se agir certo não. Agir certo aqui é resgatar aquela educação humanista que privilegia a solidariedade através do ensino da filosofia e de outras ciências humanas. Aquela educação que privilegiando a solidariedade pretendia formar o homem para a vida onde compartilhar seria a palavra de ordem. Onde a fraude ou o desvio ético deveria envergonhar quem o praticasse. Onde os jovens comprometidos com o bem comum não fossem exceção e motivo de crítica e espanto, mas a regra. Aquela educação que privilegiando a justiça formaria uma sociedade de fato e não esse campo de batalha que assistimos em nosso dia a dia. Só assim nossa juventude poderá recuperar os ideais generosos que a movia. Irá se preocupar novamente com o futuro ampliando sua perspectiva e seus horizontes sem medo de perder. Alguns passos neste sentido já foram dados. A filosofia voltou a fazer parte do programa escolar, assim como a psicologia e a sociologia. Falta a literatura ser encarada com mais seriedade e começar a ser ensinada o mais cedo possível. Mas uma certa confusão ainda reina aqui, pois o longo período em que essas matérias ficaram proibidas no ensino básico gerou uma falta de professores na atualidade, ainda se privilegia a competição e o tecnicismo ainda não saiu de cena. Pelo contrário, parece até que está mais forte, pois novos testes de avaliação, que obriga os alunos a decorar conteúdos em vez de aprender a compreender como o ENEM e outros, foram acrescidos aos já existentes. Nada contra as avaliações, só que a “loteria” dos testes de múltipla escolha não avalia nada. Para uma real avaliação, as provas dissertativas é que deveriam ser aplicadas. Parece que estão querendo humanizar o tecnicismo. Já é um começo, mas insuficiente ainda. Um retorno mais consistente àquela educação humanista formadora de jovens pensantes e solidários, com os olhos mirando o futuro com a confiança que ele será melhor, se faz necessário. Reformar o tecnicismo tentando humanizá-lo é apenas um bom início de caminhada, que deve prosseguir até sua total transformação. Aí sim, nossa juventude deixará de freqüentar o noticiário policial para voltar a ocupar o noticiário das grandes questões da humanidade: da política. Portanto, por sua natureza crítica e coletiva, a filosofia juntamente com as ciências humanas e a literatura são fundamentais. Vamos estudá-las então.